terça-feira, 12 de novembro de 2013

Dói.

Acordei com um nó na garganta. Aquele que já é habitual quando tenho que voltar a fazer a mala e partir do meu país, para aquela que nunca será verdadeiramente a minha casa.
Almocei com a minha mãe e com o meu irmão, um frango assado já coberto de lágrimas...talvez por ser o último momento com sabor a Portugal...a última refeição junto dos meus.
Faço a mala, já sem pensar, com o desprendimento de que qualquer Caminheiro é capaz. Quatro t-shirts, umas calças e roupa interior. That's it. A minha mãe não demorou a trazer-me pequenos mimos, numa tentativa de minimizar a saudade (como se algo fosse capaz de o fazer...). Trouxe-me uma prenda de natal...muito antecipada, que veio relembrar-me que não vou poder estar presente. Vejo-a a correr de um lado para o outro, procurando freneticamente encontrar 'coisas' que me façam falta. Não me faz falta 'coisa' nenhuma, mas deixo-a...pois sei que ela precisa disso..mais do que eu. Quando dou por mim já tenho a mala cheia de "coisas da mãe".
Chega a hora de ir para o carro. Há ainda duas paragens obrigatórias antes de seguir para o aeroporto. A primeira pelo grande motivo desta minha visita, a minha avó. 
Saio do carro junto ao Centro de Dia, limpando as lágrimas que já teimavam em fugir. "Não podes chorar ao pé dela!", pensei. Entro na sala com o sorriso possível. Ficou radiante ao ver-me. Abracei-a. E mais uma vez não consegui segurar a tristeza que me invadia. A minha avó fez esta semana 86 anos. É das pessoas mais fortes, mais corajosas...e mais teimosas que conheço, mas a saúde já débil, deixa-me com receio que este abraço seja o último. E dói. Digo um último "Adeus", com mais um abraço. De repente, sinto-me novamente criança...nos braços da minha avó, lavada em lágrimas, como se ela me estivesse a levar ao infantário e eu não quisesse sair do seu colo. E dói. 
Próxima paragem, casa da minha prima (mais minha irmã, mas com um ADN ligeiramente diferente do meu). 
O André, baby da minha prima, é o menino do meu coração. Ele é dos maiores motivos de alegria da minha vida. Brinco com ele tentando absorver toda aquela alegria que lhe é tão característica. As próximas sessões de brincadeira são via Skype..por isso aproveito cada xi-coração que ele dá à prima..e guardo-os todos..porque são tão bons, tão sinceros...e porque tenho sempre medo que ele se esqueça de mim. A ausência não perdoa. E ele cresce, começa a andar, a falar, a comer sozinho...sem eu poder ver, e viver, tais momentos. E dói.
Chego ao aeroporto. Despeço-me da minha mãe e do meu irmão...já incapaz de conter as lágrimas. Tento tranquilizá-los quando me vêem chorar...tarefa impossível. Antes de virar costas, mais um beijo e um abraço... que sabem a pouco. Tão pouco. E dói.
O meu pai entra comigo, caminhando ao meu lado enquanto me tento recompor da despedida. Mas desisto, despeço-me dele também. E continuo a chorar. E dói. Ele abraça-me e diz-me "amo-te muito". E dói. Dói tanto. 
Chego à segurança ainda com lágrimas na cara. O senhor pergunta-me se tenho líquidos, cremes ou portátil na mala. Tive vontade de lhe responder que não tinha nada...à excepção de uma enorme vontade de não ter de partir. Disse-me: "não chore". Ao que só consigo responder: "oh..". Respiro fundo, e volto a tentar limpar as lágrimas.
Sobrevoar Lisboa deixa-me sempre emocionada. Respiro fundo, uma e outra vez, até perde-la de vista. Dói.
2h45. Já em 'casa'. Depois de desfazer a mala, sento-me na bancada da cozinha a comer uma das duas sandes de presunto que a minha mãe fez questão de mandar. Tenho que dormir. E dói.